domingo, 30 de setembro de 2012


Sacerdotes, nossos pais

Eles participam das nossas tristezas e alegrias
Todas as religiões sempre se valeram dos préstimos de coordenação dos líderes religiosos. Encontramos gurus, pastores, sacerdotes, pajés, levitas, mães de santos, feiticeiros... Na maior parte dos casos, trata-se de gente de boa fé, querendo prestar serviços à humanidade diante do mundo divino. Até entre os ateus encontramos “apóstolos” que promovem a “evangelização” e querem libertar a raça humana de vãos temores.

Não lhes nego a possibilidade de reta intenção, mas sabemos que todos esses líderes ocupam posições frágeis. A membrana que separa a verdade da mentira, a retidão da injustiça, a honestidade da exploração, é muito tênue e porosa. Não é fácil passar por tudo isso sem, ao menos, chamuscar as vestes.
Na Santa Igreja, temos uma figura que, em muitos aspectos, participa de eventuais características de fragilidade dos líderes religiosos. Alguns o chamam carinhosamente de padre, de presbítero, de sacerdote, de clérigo ou até de levita. Dentro da economia de salvação, trazida pelo Sumo-Sacerdote Jesus Cristo, a pessoa central na Igreja é o bispo, sucessor dos apóstolos. 
No dia-a-dia da vida da comunidade, a pessoa fulcral é o padre. É ele quem está em contacto permanente com os fiéis, participa de suas tristezas e alegrias, chama as ovelhas cada uma pelo nome, distribui-lhes os tesouros da salvação, organiza a vida religiosa e lhes ministra a Palavra Sagrada.

Nada a estranhar que o povo espere de seus presbíteros uma grande santidade de vida. Posso garantir aos meus amigos que a preparação dos padres é séria e se estende por vários anos. Mas quero mostrar também que - muitos talvez não o saibam -  uma vez ordenados, os sacerdotes passam por uma formação permanente com cursos, reuniões, planejamentos, retiros, dias de estudo e de oração.

Ademais, uma coisa que muitos veem, mas pouco se comenta é que os padres são pessoas quase únicas, pois eles têm a coragem de apostar sua vida nessa nobre missão; deixam de formar uma família para se tornarem pais de uma grande comunidade, pela qual empatam tudo. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13).

sábado, 29 de setembro de 2012



Vocação: um desafio, uma conquista

Descubra a sua e, certamente, encontrará prazer em realizá-la

Imagem de DestaqueConhecemos muitas pessoas que dizem amar sua profissão, seu trabalho e que, até mesmo, o faria sem remuneração. O prazer no cumprimento daquilo que nos identifica sobrepuja qualquer outra necessidade aparente.

Certamente, muitos de nós já ouvimos perguntas como: “O que você vai ser quando crescer?”, “O que você fará após o colegial?”, “Que profissão você seguirá?”. Numa pergunta simples está contido, implicitamente, o desafio de perceber, por meio das nossas habilidades, as leves indicações que demonstrarão nossa simpatia por determinada atividade. Embalados por esta simpatia, somos atraídos em assumir o que, possivelmente, deveremos abraçar como vocação. 
Qual seria a incógnita que decifraria os resultados da certeza de nossa vocação? Se esta fosse um organismo vivo, qual seria o código genético que a comporia?  A partir desse momento, assumimos atitudes que auxiliarão na concretização da vivência daquilo que acreditamos ser nosso chamado, ainda que em estágio embrionário.
O contato com pessoas que já têm definidas suas vocações é muito importante para aqueles que ainda vivem seu estado de discernimento. Ao contrário do que poderíamos pensar, uma pessoa que se diz realizada em sua vocação não está isenta de dificuldades e provações; contudo, sente-se investida de uma força que sempre a impulsionará a continuar com alegria na sua caminhada para as novas descobertas.

Para cada um há um chamado que ressoa desde o princípio em nossa alma, um chamado específico para a realização de uma missão também específica. Interessante considerarmos que para determinada missão ninguém poderá nos substituir para o seu cumprimento plenamente, pois, da mesma maneira que eu não teria o zelo de um jardineiro vocacionado ao seu jardim, outros não teriam o mesmo zelo para com aquilo que a você foi reservado como missão. 
Incrustada na rocha dos nossos desafios, está a joia da nossa vocação. A cada novo desafio, a cada conquista, fundamenta-se em nosso ser a certeza de que, realmente, estamos lapidando uma pedra de valor ímpar. A dedicação e a persistência, no desejo de levar a cabo o que sentimos, revigora nossas forças. 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012


Virgem Maria, sinal de Deus para nós

No mundo marcado pelo poder, ela se fez escrava do Senhor

Deus fala sempre e é necessário apurar os ouvidos diante de Suas Palavras. Muitas vezes, o silêncio é a Sua voz (Cf. Is 30,15; Sl 64,2), outras se manifestam por meio de pessoas por Ele enviadas, cujos gestos e respostas aos apelos do Senhor são altamente eloquentes. Grita bem forte, diante da história, o sinal que é a Igreja, esposa de Cristo, cuidada com amor por aquele que se entregou para fazê-la santa e imaculada.Sinal de Deus é o fato de ser esta mesma Igreja constituída por homens e mulheres marcados pela fragilidade comum a toda a natureza humana, mas tocados pela graça de Deus, que os conduz progressivamente à estatura de Cristo (Cf. Ef 4,13-16). O mistério de Cristo, luz do mundo, há de resplandecer na face da Igreja.

Tudo o que se diz da Igreja, em geral, pode ser aplicado em particular àquela que foi escolhida e preparada pelo Pai do Céu para ser Mãe de Seu Filho amado, a Virgem Maria, Imaculada, assunta ao céu, sinal de Deus para o mundo. Por outro lado, tudo o que se diz de Maria pode ser aplicado à Igreja no seu conjunto, como graça e vocação (Cf. Ap 11,19; 12,1-10). Ao celebrarmos com a Igreja a Festa da Assunção de Nossa Senhora, deparamo-nos com uma torrente de ensinamentos a serem colhidos com sabedoria, ainda que não sejamos capazes de absorver toda a riqueza dos mistérios de Deus, realizados em santa cumplicidade com a humanidade, nos quais nos envolvemos, com Maria e do modo de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.

O fato de Deus ter preservado a Virgem Maria 
da corrupção, elevando-a em corpo e alma, “assumindo-a” na “assunção”, traz consigo a lição do grande valor dado por Deus a tudo o que é humano. Não nos é lícito desprezar o corpo humano, as realidades terrestres destinadas a contribuírem à realização das pessoas, a beleza da natureza, o relacionamento entre elas. Tudo tem um destino de felicidade e de eternidade, tanto que buscamos um novo céu e uma nova terra, onde Deus será tudo em todos! É inclusive condição para a realização humana nesta terra o olhar otimista dos cristãos em relação a toda a criação. Cabe a eles  passar pelas estradas do mundo plantando e colhendo o bem, recuperando a realidade e o sonho oferecidos por Deus no Livro do Gênesis, pois ele nos quer felizes no Paraíso. Nossa vida na terra é ao, mesmo tempo, saudade e esperança do Paraíso. Em Cristo, Salvador e Redentor, tudo é recapitulado, ganha um novo e definitivo sentido.
Olhar para o grande sinal aparecido do no céu e dar-lhe um nome: Maria!– traz ainda a grande certeza de termos uma Mãe no Céu, criatura como todos nós, mas escolhida, preservada do mal e elevada à comunhão plena com a Trindade. Um privilégio e uma graça que a tornou missionária. Ela chegou na frente para nos mostrar a estrada. Bendita entre todas as mulheres (Lc 1,39-45) para nos mostrar o caminho da bênção. Ela é Nossa Senhora da Esperança, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora do presente e do futuro! Junto de Deus está a nossa humanidade. Estabeleceu-se um laço definitivo pelo que nós podemos renunciar a olhar para o Céu e caminhar para lá. 

Olhando para aquela que foi assunta ao Céu, parece-me encontrá-la realizada aqui na terra, em muitas outras pessoas que trazem os traços de Maria. Dentre tantas, no mês dedicado às diversas vocações na Igreja, volto meu olhar para os homens e mulheres que descobriram um chamado semelhante ao de Maria, tornando-se sinais da plenitude do Reino de Deus, na vida religiosa. Quando muitos põem toda a esperança nos bens da terra, a vida religiosa proclama a plenitude de Deus, com a bem-aventurança da pobreza, transformada em voto, entrega total de vida, e diz a todos que Deus eleva os humildes, despede os ricos de mãos vazias e sacia de bens os famintos. Com a virgindade e a castidade vividas e testemunhadas, os religiosos e as religiosas reconhecem que Deus olhou para a pequenez de seus servos e servas, e o proclamam senhor de todos os seus afetos, dispostos a construir a fraternidade, não constituindo para si uma família própria, mas suscitando a ternura da família dos filhos de Deus.

Ao mundo que luta pelo poder e o domínio de uns sobre os outros, a vida religiosa proclama, com o desafiador voto de obediência – “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” – que Deus derruba do trono os poderosos. Nos religiosos e nas religiosas o Senhor Jesus quer continuar a se fazer servo, obediente até à morte, e morte de Cruz (Cf. Fl 2,1-11). São pessoas que podem ser parecidas com Nossa Senhora, são homens e mulheres “apressados”, desejosos de viver, desde já, os valores da eternidade. Sintam-se reconhecidos e valorizados pela sociedade, pela Igreja e por todas as pessoas que têm sede de Deus e muitos jovens experimentem o chamado a seguir Jesus de perto nesta forma de entrega à Igreja e ao Reino de Deus.


Com Nossa Senhora, com a Igreja e com as pessoas consagradas na Castidade, na Pobreza e na Obediência, pedimos ao Pai, Deus e eterno e todo-poderoso, aquele que elevou à glória do Céu, em corpo e alma a Virgem Maria, que nos faça viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória. 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012


Viva a vida nova em Cristo

Ponde vossos membros a serviço de Deus
Cristo morreu e ressuscitou para nos dar a vida nova e não para que continuássemos na vida de pecado, pois o velho homem foi crucificado com Cristo. Pelo Batismo fomos inseridos na vida nova em Cristo, portanto tudo o que era velho passou, mas tudo se faz novo. “E, se já morremos com Cristo, cremos que também viveremos com Ele” (Rm 6,8).
Muitas vezes, não temos assumido esta vida nova que Cristo adquiriu com Seu Sangue e Sua Cruz, também com Sua Ressurreição. E deixamos o nosso corpo ser dominado pelo homem velho, pelas práticas da vida passada que estão latentes em nós, pelos apetites carnais que nos levam ao pecado. Acabamos, portanto, nos acostumando com o pecado e somos levados por ele. Não podemos submeter nossos membros a serviço do pecado, mas a serviço de Deus, no amor, na justiça e santidade.
Muitos oferecem seus membros para destruir os outros e a si próprio. As nossas mãos não podem ser instrumentos para o roubo, para matar ou para a masturbação; porém para louvar o Senhor e tocar naquilo que é santo.
Os nossos olhos não podem ser instrumentos de cobiça e pecado, mas para serem fixados no Senhor e olhar os outros com pureza; nossas pernas não podem ser usadas para nos levar para longe de Deus e sim, para perto do Senhor; a nossa boca precisa ser usada para receber o corpo de Cristo, cantar e falar os louvores do Senhor, palavras puras e benção; mas não para falar coisas impuras, como palavrões, piadas, maldições, etc.

O mesmo deve acontecer com nossos ouvidos, eles não podem ser usados para ouvir músicas ou piadas impuras, mas devem ser purificados, a fim de ouvirmos a voz do Senhor, Sua palavra. E também nossa sexualidade e genitalidade, como dom de Deus, não podem ser instrumentos ou estar a serviço da impureza, depravação, porém para nos santificar.
“Que o pecado não reine mais em vosso corpo mortal, levando-vos a obedecer às suas paixões. Não ofereçais mais vossos membros ao pecado como armas de injustiça. Pelo contrário, oferecei-vos a Deus como pessoas que passaram da morte à vida, e ponde vossos membros a serviço de Deus como armas de justiça” (Rm 6,12-13).
Porém, estamos a serviço Daquele que reina para sempre, o Senhor. Fomos libertos do pecado por causa de Sua entrega total; por este motivo, não podemos nos submeter mais ao jugo do pecado, e sim, buscarmos a nossa liberdade.
O nosso corpo precisa estar inteiramente a serviço de Deus e não pela metade. Sei também que em nosso corpo há marcas do pecado que querem nos arrastar para o mal e o pecado, principalmente o da sexualidade, mas permaneçamos firmes na graça do Senhor e ofereçamos a Deus o nosso templo, o corpo.
“Devido a vossas limitações naturais, falo de maneira humana: assim como outrora oferecerdes vossos membros como escravos à impureza e à iniqüidade, para viverdes iniquamente, agora oferecei-vos como escravos à justiça, para a vossa santificação. Que fruto colhíeis, então, de ações das quais hoje vos envergonhais? Agora, porém, libertados do pecado e como servos de Deus, produzis frutos para a vossa santificação, tendo como meta a vida eterna” (Rm 6,19.21-22).

quarta-feira, 26 de setembro de 2012


Valor do essencial

No plano de Deus o mais importante é o amor
Tudo que ajuda no aumento da qualidade da vida das pessoas e no crescimento do verdadeiro bem é aceitável. Mas nem tudo é essencial nem consegue atingir o mais profundo do ser humano. No Plano de Deus, o mais importante é o amor, fundamentado na Palavra, causando autêntica libertação.

É importante a prática de normas, de estatutos para o interesse comum, mas longe de qualquer tipo de legalismo com privilégios particulares, excluindo o bem coletivo. Na verdade, é do coração de cada pessoa que vem a escolha para fazer o bem ou o mal. A referência determinante seja a Palavra de Deus.

Na visão da Sagrada Escritura, deve sair do coração humano todo tipo de “imundície e malícia” que degrada a sua dignidade. Somente a docilidade aos ensinamentos da Palavra revelada poderá proporcionar vida e solidariedade para com quem passa por dificuldades e criar ambiente capaz de condicionar vida fraterna.
O grande sonho de todos é que haja liberdade e paz. Isto deve ser garantido pelas leis, evitando que aconteçam atos injustos e desentendimento entre as pessoas. Não podemos fugir do essencial, cujo centro é a defesa e a promoção da vida e sua dignidade. O grande entrave para isto passa pela capacidade que as pessoas têm para burlar as leis em causa própria.

Vivemos na cultura dos interesses individuais, gerando um sistema que oprime o povo, porque não corresponde ao ideal de uma sociedade realmente justa. E podemos dizer que uma grande nação se faz pela promoção da justiça social. Nestas condições, todas as pessoas conseguem viver bem, e as leis são essenciais e devem ser respeitadas.

Numa realidade injusta, o Estado se arma de muitos “espiões”, de fiscais e cobradores de impostos, porque a distribuição não é fraterna. Há atrelamento com um sistema de leis que mais oprime e exclui do que liberta as pessoas. Leis que nem sempre condizem com o que está inscrito no coração das pessoas. Diga-se que o Brasil é campeão na cobrança de impostos.

terça-feira, 25 de setembro de 2012


Escravos por amor a Jesus Cristo

Faça-se em mim segundo a vossa palavra
"Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado" (Mt 23, 12).

Estas palavras de Jesus nos colocam diante de uma realidade fundamental acerca de nossa vocação. Como cristãos, somos chamados a acolher a cruz de Cristo em nossas vidas. Ele se humilhou, assumindo a condição de escravo, cuja vida não pertence a si mesmo, mas ao seu senhor. Como Ele, somos chamados a assumir o "ser servo". Para refletir sobre este tema, é muito importante olharmos para a mãe do Servo Sofredor, para a Virgem Maria.

Na Anunciação de que Nossa Senhora seria a Mãe de Jesus (cf. Lc 1, 31), ela responde ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a vossa palavra” (Lc 1, 38). Maria não somente se disse serva, mas se coloca a serviço de sua prima Isabel. Depois da resposta de Maria ao anúncio do anjo, ela visitou sua prima, a qual estava grávida de João Batista. Ao ouvir a saudação de Maria, Isabel ficou cheia do Espírito Santo e disse: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc, 1, 42b).
Maria tinha acabado de chegar. Nem mesmo havia se colocado a serviço e foi exaltada pela saudação de Isabel. Esta declara Maria como a bem-aventurada, a realizada pelo fato de ter acreditado no anúncio do anjo: “Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!” (Lc 1,45). Mais ainda, Isabel profetiza o cumprimento da anunciação feita pelo anjo.

Depois das palavras inspiradas de Isabel, em Nossa Senhora, no cântico do “Magnificat”, realiza-se a profecia de Isabel. Maria experimenta, naquele momento, a exaltação de Deus: “A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1, 47-48a). Maria foi exaltada logo depois no anúncio do anjo, porque se fez humilde, fez-se serva do Senhor. Cheia do Espírito, Maria profetiza a exaltação que lhe será dada até o fim dos tempos: “Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz” (Lc 1, 48b).

Como a Virgem Maria, que se fez serva, fez-se escrava do Senhor, somos chamados também a nos fazer servos, escravos por amor do Senhor. Acolhendo com humildade o desígnio de Deus para nós, o Senhor nos promete que seremos exaltados: “quem se humilhar será exaltado” (Mt 23, 12). Certamente, esta exaltação acontece aqui, ainda que não conforme a nossa vontade, e acontecerá plenamente na glória da Jerusalém celeste, onde estaremos na comunhão definitiva com a Santíssima Trindade, a Virgem Maria, os anjos e os santos.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012


Diálogar com Deus a partir do cotidiano

Falar com Deus é deixar que Ele seja o protagonista no nosso ser
Deus fala de muitas maneiras; a oração é, sobretudo, escuta e resposta. Ele fala na Escritura, na liturgia, na direção espiritual, por meio do mundo e das circunstâncias da vida: no trabalho, nas vicissitudes do dia ou no convívio com os outros. Para aprender esta linguagem divina convém dedicar algum tempo a estar a sós com o Senhor.

Falar com Deus é deixar que Ele seja o protagonista no nosso ser. Meditar a vida de Cristo permite entender a nossa história pessoal para abri-la à graça. Deus Pai nos predestinou a sermos conforme a imagem de Seu Filho, e quer ver Cristo formado em nós para que possamos exclamar: "Já não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim".

Especialmente no Novo Testamento, o melhor livro de meditação, contemplamos os mistérios de Cristo: revivemos Seu nascimento em Belém, a vida escondida em Nazaré, as angústias da Paixão. Esta assimilação ao Filho é realizada pelo Espírito Santo com eficácia, mas não é um processo mecânico diante do qual o batizado seria apenas um espectador assombrado. Podemos colaborar, filialmente, com a ação divina, dispondo bem à vontade, aplicando a imaginação e a inteligência, dando passagem aos bons afetos.

Era isto que fazia São Josemaria quando entendia seus próprios sofrimentos, ao considerar a agonia de Cristo: E eu, que também quero cumprir a santíssima vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderei queixar-me se encontro por companheiro de caminho o sofrimento?

Constituirá um sinal certo da minha filiação, porque me trata como ao Seu Divino Filho. E, então, como Ele, poderei gemer e chorar sozinho no meu Getsemani; mas, prostrado por terra, reconhecendo O meu nada, subirá ao Senhor um grito saído do íntimo da minha alma: Pater mi, Abba, Pater, ... fiat!
A Deus falamos quando oramos, e a Ele ouvimos quando lemos as palavras divinas; "a oração deve acompanhar a leitura da Sagrada Escritura para que se realize o diálogo de Deus com o homem", um diálogo no qual o Pai nos fala do Filho, para que sejamos outros Cristos, o próprio Cristo. Vale a pena mobilizar as nossas potências à hora de rezar com o Evangelho.

Primeiro, imaginamos a cena ou o mistério que servirá para nos recolhermos e meditar. Depois, aplicamos o entendimento para considerar aquele traço da vida do Mestre. Contamos-lhe, então, o que nos costuma suceder nestes assuntos, o que se passa conosco, o que está nos acontecendo. Permaneçamos atentos, porque talvez Ele queira nos indicar alguma coisa: surgirão essas moções interiores, o cair em si, as admoestações.

Trata-se, em resumo, de rezar sobre a nossa vida para vivê-la como Deus espera. É muito necessário, especialmente para os que procuram santificar-se no trabalho. Que obras serão as suas, se não as meditaste na presença do Senhor para as ordenares? Sem essa conversa com Deus, como poderás acabar com perfeição a atividade do dia?

Ao contemplar, por um lado, os mistérios de Jesus e, por outro, os acontecimentos da nossa existência, aprendemos a rezar como Cristo, cuja oração estava toda "nesta adesão amorosa do seu coração de homem ao 'mistério da vontade' do Pai (Ef 1, 9)"; aprendemos a rezar como um filho de Deus, seguindo o exemplo de São Josemaria. A minha oração, diante de qualquer circunstância, tem sido a mesma, com tonalidades diferentes. Tenho-lhe dito: Senhor, Tu colocaste-me aqui; Tu confiaste-me isto ou aquilo, e eu confio em Ti. Sei que és meu Pai e tenho visto sempre que as crianças confiam absolutamente nos pais. A minha experiência sacerdotal confirmou-me que este abandono nas mãos de Deus leva as almas a adquirir uma piedade forte, profunda e serena, que impele a trabalhar constantemente com retidão de intenção.

A oração é o meio privilegiado para amadurecer. É parte imprescindível desse processo pelo qual o centro de gravidade se transfere do amor próprio para o amor a Deus e aos outros por Ele. A personalidade madura tem peso, consistência, continuidade, traços bem definidos que dão um modo peculiar em cada pessoa de refletir Cristo.

A pessoa madura é como um piano bem afinado. Não procura a genialidade de emitir sons imprevistos, de surpreender. O surpreendente é que dá a nota certa e o genial é que, graças à sua estabilidade, permite interpretar as melhores melodias; é fiável, responde de modo previsível e, por isso, serve. Atingir essa estabilidade e firmeza que dá a maturidade é todo um desafio.

Contemplar a Humanidade do Senhor é o melhor caminho para a plenitude. Ele ajuda a descobrir e a corrigir as teclas que não respondem bem. Para alguns será uma vontade que resiste a pôr em prática o que Deus espera deles. Outros podem notar que lhes falta calor humano, tão necessário para a convivência e para o apostolado. Alguns, talvez enérgicos, têm tendência, no entanto, para a precipitação e para a desordem, levados pelos sentimentos.

É uma tarefa que não acaba nunca. Implica detectar os desequilíbrios, as notas que desafinam com uma atitude humilde e decidida a melhorar, sem impaciências nem desânimos, porque o Senhor nos olha com imenso carinho e compreensão. Que importante é aprender a meditar a nossa vida com os olhos do Senhor! Falando com Ele desperta-se a paixão pela verdade; em contato com ela, perde-se o medo a conhecer o que realmente somos, sem evasões da imaginação ou deformações da soberba.

Ao contemplar a realidade a partir do diálogo com Deus, aprende-se também a ler, nas pessoas e nos fatos, sem o filtro flutuante de uma apreciação exclusivamente sentimental ou de utilidade imediata. É também onde aprendemos a admirar a grandeza de um Deus que ama a nossa pequenez ao contemplar tantos mistérios que nos superam.

domingo, 23 de setembro de 2012


Navegar é preciso, mas para onde?

A missão dos leigos como contrutores da sociedade nova
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Não parece, mas o Concílio Vaticano II está chegando ao seu jubileu áureo. Nunca a Igreja pôde acompanhar, com tantos detalhes, a evolução interna dos padres conciliares nem a recepção, às vezes tumultuada, de seus ensinamentos no meio do povo. Muitas de suas riquezas estão como e-mails ainda não acessados. Sem menosprezar os demais pontos altos do magno conclave, eu diria que há duas verdades, pouco ou nada abordadas, em Concílios anteriores: o verdadeiro rosto da diocese, ou Igreja local, e o papel dos leigos nos tempos atuais. Hoje, pretendo entrar um pouco neste segundo ponto, sobre o qual deliberaram os bispos da Santa Igreja, juntamente com seus assessores teológicos.

Antes de comentar o grande plano do Reino de Deus, permitam-me contar uma curtíssima “parábola”. Para haver uma boa construção deve existir um arquiteto, pelo menos um bom pedreiro e um servente de pedreiro. Na grande construção do Reino, o arquiteto é o Espírito Divino obviamente. O pedreiro é o leigo, para surpresa nossa, um novo sujeito eclesial. E o servente de pedreiro é aquele que distribui os sacramentos, o pão da Palavra e os serve à comunidade. Este é o sacerdote. 
Por que o Leigo é o construtor da sociedade nova? Porque ele está dentro do mundo econômico, nas vivências da saúde e da educação, na distribuição da justiça. Esse lugar é dele e não do clero primeiramente. Este entra em questão, mas de modo supletivo e na fase da motivação espiritual. Hoje, felizmente, redescobre-se a importância de sair do nosso cercado paroquial para levar a mensagem às pessoas que não estão no nosso aprisco. “Fazei discípulos meus todos os povos” (Mt 28, 19).

Hoje se diz: "A Igreja é missionária, ou não é a Igreja de Cristo”. Nestes novos tempos, “é preciso evangelizar a todos”. Os freges, por invasão recíproca de atribuições, não são poucos, mas com paciência, vamos aprendendo sempre de modo melhor. O que ainda falta é a objetividade. Todos são desafiados a serem missionários e grandes evangelizadores; só não se fala o que deve ser feito. Somos como um grande navio que é desafiado a levantar âncoras, mas parece que todos ignoram para onde navegar.

sábado, 22 de setembro de 2012


Deus sempre faz o bem

Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus
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Deus é tão grandiosamente mais poderoso que o maligno, que pode até mesmo reverter as consequências dos males que satanás semeia nesse mundo ou as fatalidades decorrentes de um universo sujeito à imperfeição, num proveito ou crescimento para a pessoa ou para a humanidade. É a Palavra que nos garante isso como certeza de fé, um princípio eterno: “Todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28).

O Altíssimo está sempre à nossa frente com Seu amor, instruindo, dando suporte e conduzindo-nos aos Seus desígnios. Nós é que, no tempo e no espaço do agora, podemos optar pelo bem que vem de Deus ou pelo mal que é próprio do maligno. Quando escolhemos o mal, este gera consequências que nos tornarão pessoas infelizes, pois, uma árvore boa não pode dar frutos ruins e vice-versa (cf. Lc 6,43). Assim mesmo, o céu pode se mover a nosso favor se nos arrependermos e não continuarmos a investir no lado das sombras. 

Do Senhor não provém nenhum mal
"Deus é inacessível ao mal" (cf. Tg 1,13). Ele tem um bom propósito a respeito de cada criatura. “Quando Deus criou suas obras, desde o princípio, quando as formou, distinguiu suas partes, determinou para sempre suas tarefas e o domínio de cada uma em suas gerações” (Eclo 16, 26-27). Foi a livre escolha do homem que introduziu, no universo, um caráter perecível à natureza dos elementos e rendeu o cosmos ao poder do diabo. O Senhor é infinitamente bom e todas as suas obras são boas. Todavia, ninguém escapa à experiência do sofrimento, dos males existentes na natureza – que aparecem ligados às limitações próprias das criaturas (cf. Catecismo da Igreja Católica nº. 385). Não importa o quanto sofremos ou interpretamos um fato desagradável somente como prejuízo. O Senhor, de alguma forma, pode, daí, extrair algum bem. 
Os filhos de Jacó, alimentavam a inveja contra um de seus irmãos, José. Então, venderam-no como escravo para mercadores ismaelitas (cf. Gn 37). Em decorrência disso, José foi parar no Egito. Sofreu prisões e injustiças, mas estas acabaram sendo, justamente, os artifícios que tornaram possível seu encontro com o faraó. Ele interpretou os sonhos deste governante e lhe deu a sugestão de estocar abundantes grãos das primeiras sete colheitas para o tempo de fome que chegaria. Assim, José obtém do soberano do país o reconhecimento de seus dons e se torna Primeiro Ministro, ou seja, o homem mais poderoso do país, somente subordinado ao faraó. Ele salva a população local e toda a terra da fome.

Algum tempo depois, os próprios irmãos de José viajaram para o Egito em busca de alimentos. Foi, então, que se depararam com aquele sobre o qual cometeram grande injustiça. Entretanto, José deixa exalar de si não a mágoa de ter experimentado o mal que seus irmãos lhe fizeram, mas aponta a bondade com que o Senhor reverteu aquela penúria. “Mas agora não vos entristeçais, nem tenhais remorsos de me ter vendido para ser conduzido aqui. É para vos conservar a vida que Deus me enviou adiante de vós” (Gn 45, 5).

Também das nossas falhas, se nos arrependermos de todo o coração, o Senhor pode nos purificar por meio do sofrimento, transformando-o em benefício. Davi pecou ao tomar a mulher de Urias como sua (cf. II Sm 11), mas se arrependeu (cf. II Sm 12, 13). Sofreu as consequências de seu pecado (cf. II Sm 12, 15ss); contudo, foi de Betsabéia que nasceu seu filho Salomão, o qual herdou o trono de seu pai, Davi (cf. I Rs 1, 32ss).

Tudo isto não significa que podemos nos enveredar pelos caminhos do mal, confiando que, posteriormente, o Senhor irá nos perdoar e ainda nos retribuir com um bem, e que não precisamos ter medo do mal e da injúrias sofridas. Nem ficarmos presos à concepção de que os erros do passado, em que talvez nem tínhamos conhecimento do certo e errado, será motivo de penalidades enviadas pelo Senhor. No momento do sofrimento, realmente não é fácil acreditar que o Pai irá operar algum bem, mas devemos acreditar e manter viva a chama da esperança, até porque a maioria de nós já experimentou que de lamentos do passado podemos, pelo menos, alcançar crescimento pessoal.
 
Tomemos para nossa vida o exemplo do Cristo
 que padeceu pelas nossas faltas (cf. Is 55). Ele que não era merecedor, foi esmagado pelos nossos pecados, contudo, do pior crime que a humanidade quis cometer – matar Deus – Ele trouxe a melhor Boa Notícia de todos os tempos. Jesus nos salvou e Ressuscitou, tirando-nos do poder da morte.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012


O sinal da Santa Cruz

Com a Virgem Maria aos pés da cruz
Imagem de DestaqueA Igreja oferece, na liturgia, a melodia da palavra e da oração para ritmar os passos da vida humana. Como na música, o tempo forte da dança da vida é dado pelo domingo, o Dia do Senhor, no qual se fazem presentes, de forma excepcional, os grandes mistérios do Cristo, em Sua Morte e Ressurreição. Os mistérios como a Encarnação do Verbo de Deus e Seu nascimento em Belém, a vida em Nazaré, no maravilhoso recôndito da família, a pregação do Evangelho, o chamado dos discípulos, os milagres, a entrada na vida cotidiana das pessoas, a prática do seguimento de Jesus na experiência dos santos, tudo isso é apresentado durante o ano para que as leis da oração e da fé iluminem os passos dos cristãos e contribuam para chamar outras pessoas à mais digna aventura humana, acolher Jesus Cristo, n'Ele acreditar e fazer-se discípulo.
Neste final de semana, a delicadeza da providência nos põe diante dos olhos a festa da Exaltação da Santa Cruz, a festa de Nossa Senhora das Dores e o diálogo de Jesus com Seus discípulos, quando da profissão de fé feita por Simão Pedro (Mc 8,27-35). É tempo privilegiado para discípulos de ontem e de hoje se decidirem.
A cruz, terrível instrumento de suplício, quando o Corpo Santo do Senhor a tocou, tornou-se sinal de salvação, causa de glória e honra para todos os seres humanos. Olhar na fé para o Senhor, que foi elevado da terra, é estrada de graça e de vida (Cf. Nm 21,4-9; Jo 3,13-17). O apóstolo São Paulo, que não conhece outra coisa senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado (Cf. I Cor 2,2), identificou-se de tal modo com este mistério que pôde dizer: "Com Cristo, eu fui pregado na cruz. Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Minha vida atual na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,19-20). Para ele, a escolha foi feita e caíram todos os laços com o passado: “Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do nosso Senhor, Jesus Cristo. Por Ele o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo” (Gl 6,14). 

A Igreja canta com alegria e não esmagada pelo peso da cruz: “Quanto a nós, devemos gloriar-nos na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é nossa salvação, nossa vida, nossa esperança de ressurreição, e pelo qual fomos salvos e libertos”. Ao iniciar a Páscoa, na Quinta-feira Santa, proclama sua convicção, retomando a proclamação da glória da cruz: “Esta é a noite da ceia pascal, a ceia em que nosso Cordeiro se imolou. Esta é a noite da ceia do amor, a ceia em que Jesus por nós se entregou.

Esta é a ceia da nova aliança. A aliança confirmada no Sangue do Senhor”. A cruz de Jesus é estandarte de vida a ser alçado em todos os lugares, como sinal da presença dos homens e mulheres de fé. A vida resplandece onde o Cristo morto e, depois, ressuscitado - “Victor quia victima - Vencedor porque vítima” (Santo Agostinho, em Confissões X, 43) - se faz presente!
Aos pés da cruz de Jesus, estava Sua mãe, Maria, mulher altiva na sua fé (Cf. Jo 19,25-27), fiel até o fim para dizer seu segundo 'sim'; desolada e depois glorificada. Anos antes, havia recebido o anúncio da espada de dor a transpassar seu coração pela palavra de Simeão (Lc 2 34-35). A Igreja celebra a sua “festa”, pois vê, em seu mistério profundo de dor e de entrega, o chamado que se dirige a todos os homens e mulheres. Com ela somos chamados a permanecer de pé, firmes diante de todo o mistério do sofrimento existente na vida.
Os discípulos de Jesus, Pedro à frente, percorreram muitas e exigentes etapas em sua formação (Cf. Mc 8,27-35) para chegarem a vislumbrar o mistério de Cristo. Pareceu-lhes sempre difícil entender que havia uma lógica diferente quando esperavam um messias vitorioso, capaz de destruir todas as forças inimigas do bem. E a trilogia deste final de semana se conclui com a provocação, oferecida pela Igreja, a que, mais uma vez, as pessoas de nosso tempo se decidam a percorrer uma estrada diferente. “A lógica de qualquer projeto humano de conquista do poder é luta-vitória-domínio.
A lógica de Jesus ao invés é: luta-derrota-domínio! Também Jesus lutou - e como lutou! - contra o mal no mundo. Com efeito, o título de Jesus Cristo ressuscitado – “Senhor” – é um título de vitória e de domínio, de modo que chega a criar uma incompatibilidade com o reconhecimento de outro senhor terreno; mas se trata de um domínio não baseado na vitória, mas na cruz” (Cf. Raniero Cantalamessa, “O Verbo se faz Carne”, no prelo, Editora Ave-Maria).
Concretizar esta escolha é apenas decidir-se a sair de si para amar e servir, buscando o que constrói o bem de todos, vencendo primeiro a si mesmo. Magnífica aventura! Vale a pena experimentar!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012



É preciso perder o medo de errar

O humilde não tem medo de errar

Imagem de DestaqueQuem se reconhece e se aceita, quem é humilde, não tem medo de errar. Por quê? Porque se, depois de ponderar, prudentemente, a sua decisão, ainda cometer um erro, isso não o surpreenderá, pois sabe que é próprio da sua condição limitada. São Francisco de Sales dizia de uma forma muito expressiva: “Por que se surpreender que a miséria seja miserável?”.
Lembro-me ainda daquele dia em que subia a encosta da Perdizes, lá em São Paulo, para dar a minha primeira aula na Faculdade Paulista de Direito, da PUC (Pontifícia Universidade Católica). Ia virando e revirando as matérias, repetindo conceitos e ideias. Estava nervoso; não sabia que impressão causariam as minhas palavras naqueles alunos de rosto desconhecido. E se me fizessem alguma pergunta a qual eu não saberia responder? E se, no meio da exposição, eu esquecesse a sequência de ideias?
Entrei na sala de aula tenso, com um sorriso artificial. Comecei a falar. Estava excessivamente pendente do que dizia, nem olhava para a cara dos alunos. Falei quarenta e cinco minutos seguidos sem interrupção, sem consultar uma nota sequer.
Percebi, porém, um certo distanciamento da “turma”, um certo respeito. Um rapaz, muito comunicativo e inteligente, talvez para superar a distância criada entre o grupo e o professor, aproximou-se e me cumprimentou: “Parabéns, professor. Que memória! Não consultou, em nenhum momento, os seus apontamentos. Foi muito interessante!"

Respirei, mas, desconfiado, quis saber: "Você entendeu o que eu disse?" Admirou-se com a minha pergunta; não a esperava. Sorrindo, encabulado, confessou-me: "Entendi muito pouco, e, pelo que pude observar, a 'turma' entendeu menos ainda".
A lição estava clara: "Dei a aula para mim e não para eles. Dei a aula para demonstrar que estava capacitado, mas não para ensinar”. Faltara descontração, didática, empatia; não fizera nenhuma pausa, nenhuma pergunta. Fora tudo academicamente perfeito, como um belo cadáver. Fora um fracasso.
Lembro-me também que, quando descia aquela encosta, fiz o propósito de tentar ser mais humilde, de preparar um esquema mais simples, de perder o medo de errar, esse medo que me deixara tão tenso e tão cansado; de pensar mais nos meus alunos e menos na imagem que eles pudessem fazer de mim. E se me fizessem uma pergunta a qual não soubesse responder, o que diria? Pois bem, diria a verdade, que precisava estudar a questão com mais calma e, na próxima aula, lhes responderia. Tão simples assim.
Que tranquilidade a minha ao subir a encosta no dia seguinte! E que agradecimento dos alunos ao verem a minha atitude mais solta, mais desinibida, mais simpática! Uma lição que tive de reaprender muitas vezes ao longo da minha vida de professor e de sacerdote: a simplicidade, a transparência e a espontaneidade são o melhor remédio para a tensão e a timidez e o recurso mais eficaz para que as nossas palavras e os nossos desejos de fazer o bem tenham eco.
Não olhemos as pupilas alheias como se fossem um espelho, no qual se reflete a nossa própria imagem; não estejamos pendentes da resposta que esse espelho possa dar às perguntas que a nossa vaidade formula continuamente: "O que é que você pensa de mim? Gostou da colocação que fiz?" Tudo isso é raquítico, decadente, cheira ao mofo do próprio "eu", imobiliza e retrai, inibe e tranca a espontaneidade. Percamos o medo de errar e erraremos menos.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012



Quem é Jesus Cristo para você?

Hoje, o Senhor lhe faz esta pergunta
Imagem de DestaqueEm certo momento da nossa vida cristã, nos será revelada a resposta a esta questão. Deus se revela a nós para que O conheçamos e, conhecendo-O, possamos Lhe responder como Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Naquele momento, Deus-Pai revelou ao discípulo a identidade de Jesus Cristo e isso determinou a vida e a missão do apóstolo, pois o Senhor se revela ao homem para que este seja participante de Sua vida e de Sua ação neste mundo.

Na profissão de fé de Pedro, revela-se o desígnio de Deus a seu respeito. Como primeiro entre os apóstolos, ele é chamado a confirmar, na fé, os seus irmãos. Porém, a sua vocação não se realizou por suas próprias forças. Temos uma prova disso logo depois de Jesus dizer que sobre Pedro edificaria a Sua Igreja e lhe entregaria as chaves do Reino dos Céus (cf. Mt 16, 18-19). O Mestre disse aos discípulos que deveria ir a Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, do sumo sacerdote e dos mestres da Lei, seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia (cf. Mt 16,21).

Pedro, sem pensar muito, disse: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!” (Mt 16,22). Tendo ouvido isso, Jesus repreende-o: “Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!” (Mt 16,23). Depois da linda confissão de fé de Simão Pedro: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16), ele demonstra que não havia entendido nada do desígnio de Deus a respeito do sacrifício de Jesus, muito menos a respeito dele.

Isso fica, claro, quando Jesus é preso no Monte das Oliveiras. Pedro, tentando defender o Mestre, toma a espada e corta a orelha de um dos servos dos sumo sacerdote (cf. Jo 18,10). Novamente, Simão é repreendido por Jesus que diz: “Guarda a tua espada na bainha. Será que não vou beber o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18,11). Logo depois, Pedro seguiu Jesus e foi interrogado, por três vezes, se ele não era um dos discípulos de Cristo. Ele negou Jesus nessas três vezes e, como havia sido dito pelo Mestre, imediatamente o galo cantou (cf. Jo 18, 13-27).

Mesmo depois de tudo isso, Jesus aparece para os discípulos e confirma a missão de Pedro, perguntando-lhe, por três vezes se ele O amava. Pedro, por sua vez, repete também por três vezes que O ama. Em resposta, por três vezes, Jesus confirma-o dizendo: “Apascenta as minhas ovelhas”. Depois, Ele continuou dizendo com que tipo de morte Pedro glorificaria a Deus (cf. Jo 21,15-20).

Como compreender que Pedro, depois de tudo o que fez, decepcionado consigo mesmo, ainda poderia realizar a missão que Jesus lhe confiou? Para responder esta questão, nos voltamos para o acontecimento do Pentecostes. Depois, da morte, ressurreição e ascensão de Jesus, em obediência a Ele, os apóstolos e discípulos estavam reunidos em Jerusalém, juntamente com a Virgem Maria (cf. At 1, 14). Eles estavam unidos em oração quando receberam o Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas (cf. At 2, 4).

Depois de receber o dom do Espírito, Pedro começou a pregar e, de uma só vez, mais de três mil pessoas se converteram. O segredo do êxito de Pedro foi a fidelidade na oração em comum, juntamente com Maria, a Mãe de Jesus. Se queremos ser fiéis à vocação que o Senhor nos confiou, perseveremos na oração na Igreja, em comunidade, junto com Nossa Senhora. Maria, que é cheia do Espírito Santo, nos dá a docilidade necessária para a ação do Espírito em nós. Pelo mesmo Espírito, professamos a nossa fé em Jesus Cristo e podemos ser fiéis à vocação que Ele nos confiou.

terça-feira, 18 de setembro de 2012


Como você tem construído seus planos?

Repense o seu modo de ver a vida
Em nossa vida fazemos planos, estabelemos metas e, com isso, visualizamos situações que “podem vir a ser”, que “podem ocorrer”, e nos colocamos numa posição de expectativa e investimento de energia, trabalho e emoção. As expectativas de vida podem, em algum momento, concretizar-se ou não.
O acúmulo de expectativas e situações não resolvidas, bem como problemas cotidianos, profissionais e pessoais podem nos levar ao famoso estresse, que não vem apenas por aquilo que está externo a nós e visível, como problemas, pessoas, falta de dinheiro, desemprego, etc., mas especialmente ao que chamamos de fatores internos, e um em especial: a maneira como interpretamos a vida e seus acontecimentos, as pessoas com as quais convivemos, as situações pelas quais passamos.

Geramos ou pioramos um estado de estresse pela forma como encaramos a vida. Quer um exemplo bem simples de como isso acontece? Por um descuido, você bate seu carro. Não é nada grave, não houve vítimas. Qual a solução mais prática? Buscar um funileiro, avaliar os danos, fazer o orçamento, as formas de pagamento, se você pode ou não pagar agora e decidir por fazer o conserto. Isso é prático, racional e direto (mesmo sabendo que haverá um gasto e que você não poderá pagá-lo agora).
Porém, um modo que gera grande desgaste é olhar para a mesma situação cobrando-se: “Eu fiz tudo errado! Como pude bater este carro! Eu não me perdoo, sou mesmo um idiota”. Todos esses pensamentos estressantes e autopunitivos trouxeram alguma solução? Certamente não. Percebe agora como nossos pensamentos e crenças pessoais podem influenciar nossa reação diante de um acontecimento?

A forma como interpretamos as situações e o modo como nossos pensamentos se desenrolam desencadeiam, portanto, a produção do famoso estresse. Crença é aquilo que dá significado à nossa vida. Se eu creio em Deus, meus atos tendem a ser pautados por essa crença. Por outro lado, se creio que tudo será péssimo, que não sou capaz, que nada dá certo comigo ou que nunca minhas expectativas darão certo, temos aí um bom caminho para atitudes desfavoráveis e um amontoado de novos pensamentos negativos e um belo caminho para o adoecimento e para um círculo contínuo e vicioso de estresse.

Muitas vezes, quando estamos nesse estado, achamos mil desculpas para justificá-lo: "Estou estressado porque meu carro quebrou". Ou: "Porque meu time perdeu", assim como: "Porque meu namoro acabou", porque ... porque... porque... sempre baseados em fatos externos. 

Você já parou para pensar qual é a sua parcela de responsabilidade diante do que não deu certo? Será que não é devido à sua forma de ver o mundo que o estresse acontece e com ele todas as consequências físicas e emocionais em sua vida?

Faço este convite a você: pare e observe como você encara o mundo ao seu redor. Este pode ser um primeiro passo para não ser refém da vida e dar um novo significado à sua história.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A quem você quer servir?
Agora é o momento da escolha, da opção. Diga comigo: "É o momento da minha escolha entre um lado e outro. Dá-me, Maria, a graça de optar bem".

Deus, por intermédio de Moisés, preparou Josué. Este era jovem e já estava na condução do povo de Deus. Moisés disse a ele: "Foi Deus quem te escolheu, Josué". Diga comigo: "Foi Deus quem me escolheu. Eu tenho um povo para o qual Deus já me escolheu. Não sou um qualquer. É a minha missão". Josué atravessou o Rio Jordão miraculosamente e quando chegou do lado de lá, viu que a terra estava toda habitada, tinha donos, tinha reis. Deus mostrou-lhe que vida de escravidão produz vícios, pecados, erros e dependência. Foram 400 anos de escravidão do povo hebreu, que vivia a idolatria e os costumes dos povos escravizadores. Tudo aquilo tinha de mudar. O Senhor tinha de obter deles uma escolha. Movido por Deus, Josué é muito franco com eles exortando-os: "Escolhei hoje a quem quereis servir".

Hoje, eu também preciso dizer a você: "A quem você quer servir? Qual é a sua escolha, qual a sua opção?" O Senhor está dizendo que tudo precisa mudar, porque você é um escolhido, um eleito.

Josué disse: "Quanto a mim, eu e minha casa serviremos ao Senhor". O líder estava resolvido. Eu dou o testemunho de minha opção, como Josué fez, pois o importante para Deus e para o povo, para o qual você é chamado, é a sua opção. Responda do fundo do seu coração. Graças a Deus, aquele povo respondeu com firmeza: "Longe de nós abandonarmos o Senhor". Atrás daqueles ídolos e imagens de ídolos se escondiam o demônio. As coisas que os pagãos sacrificam aos ídolos, na verdade, eles sacrificam-nas aos demônios. E São Paulo diz: "Eu não posso permitir que vocês tenham comunhão com o demônio". Sabe por que, meus irmãos? Esses ídolos são produtores de pecados, de vícios. E como Jesus disse: "Vós não podeis servir a dois senhores". "Eu sou o único", diz o Senhor. Irmãos, como sempre afirmo, não há "coluna do meio".

Infelizmente, muitos estão servindo a outro senhor, que é um produtor em alta escala de pecados na área da sexualidade, gerando corrupção, contestação quanto aos valores cristãos e contra os pais, insatisfação, falta de sentido para a vida, e tudo isso gera muita revolta em nosso interior. Tudo isso é subproduto do maligno e a mídia mostra, incentiva e aplaude tudo isso. Eles estão fazendo tudo isso, não para servir a Deus, mas para servir ao demônio.

Deus não quer que nós tenhamos comunhão com os demônios! Se você vive mal seu namoro, seu casamento, seu trabalho, se vive o orgulho, o adultério, a corrupção, a hipocrisia... Pecado é pecado! E não dá para medi-lo, assim como nós não brincamos com nódulos, que podem ou não ser cancerígenos, não podemos brincar com o pecado e manter comunhão com ele; mesmo que este pareça insignificante. Como disse: pecado é pecado!

domingo, 16 de setembro de 2012


Brasa enxuta

fogo
Em nossas liturgias solenes fazemos uso do incenso. É a expressão de nossa adoração, de nossas preces subindo até Deus. Para incensar colocamos no turíbulo brasas acesas sobre as quais depositamos o incenso. Neste instante sai do turíbulo uma fumaça perfumada. O sucesso da incensação depende da qualidade das brasas. Se as brasas não tiverem nenhuma umidade, se forem brasas enxutas, a fumaça provocada pelo incenso é mais abundante, mais forte, mais duradoura e ultrapassa o seu próprio ambiente. Caso contrário, se houver nas brasas alguma umidade, a fumaça é mais fraca, não se espalha muito e fica restrita ao seu ambiente. Nossa vida de comunidade pode ser comparada a um turíbulo com brasas acesas. Essas brasas são a nossa vida comum, a fraternidade, a partilha, a misericórdia, o perdão e a hospitalidade nas diferenças. Para manter estas brasas acesas e sem umidade devemos abanar constantemente o turíbulo de nossa vida comunitária na direção do Absoluto, do seguimento discipular de Jesus. E Ele, ao mesmo tempo, nos envia para perceber os sinais dos tempos e as potencilialidades de nossos irmãos. É a espiritualidade envolvendo toda a nossa vida sempre assoprada e abanada pelo Espírito de Deus. Não basta que o turíbulo de nossa vida comunitária tenha as brasas dos exercícios comunitários: orações, celebrações, retiros, etc. É necessário que a brasa não tenha a umidade da rotina, do peso das coisas marcadas, do fazer para ficar livre. Quando isto acontece, o turíbulo de nossa vida comunitária não reage bem ao receber o incenso das nossas orações comunitárias, da celebração eucarística, do retiro mensal, etc. A fumaça, quer dizer o resultado destes momentos. Fica restrito à presença física, que nem sempre expressa a motivação, o encantamento e a paixão pelo seguimento missionário de Jesus. São Paulo na sua 1ª Carta aos Coríntios lembra àquela comunidade a existência de algumas umidades que estavam diminuindo a força das brasas dos dons, da vida familiar e da Ceia do Senhor. O apóstolo se refere às umidades da competição, da desigualdade, da exclusão e de costumes pagãos. Paulo nos diz que quando a Ceia do Senhor é celebrada sobre a umidade da competição, da exclusão, da frieza no relacionamento, da falta de ternura e de perdão e sobre a incapacidade de hospedar as diferenças dentro de nós, ela deixa de ser a mesa da partilha, deixa de ser fonte de crescimento comunitário. Deixa de ser ceia do Senhor (cf. 1Cor 11,20). Não faz mais a diferença da situação dominante. Esta celebração fica restrita ao local onde ela aconteceu. Não tem influência fora. Perde o seu sentido. Paulo diz que a Ceia do Senhor, como também todas as atividades comunitárias, não podem ser coniventes com estas umidades (cf. 1Cor 11,21-22). Diante de tudo isto fica para nós algumas perguntas: – Como estão as brasas de nossa vida comunitária? – Qual a reação dela diante do incenso das orações comunitárias, da celebração da eucaristia, dos retiros e reuniões? – É uma reação que vai além do momento celebrativo? – É uma reação de gente apaixonada pelo que faz? – Nossas atividades comunitárias são brasas enxutas dentro do turíbulo da vida comunitária? – Como estão as abanadas de nosso turíbulo da vida comunitária?

sábado, 15 de setembro de 2012


Por que quero ser livre? Do que me vale a liberdade?



“Longe de casa a mais de uma semana milhas e milhas distante”.
Caramba, sempre quis ficar fora de casa curtir uns dias sem ninguém me olhando, dizendo que eu tinha que acordar arrumar minha cama, cuidar dos cachorros, lavar meu tênis “surrado” sair e comprar os pães do café da manhã!
Como é bom sentir que a vida está em suas mãos para ser vivida e não tem ninguém por perto para ser juiz de seus atos.
Mas será que ser livre é só isso?
Porque as vezes mesmo longe das pessoas e de tudo ainda não me sinto livre? Onde está minha liberdade?
Mas todo mundo quer ser livre isso tenho certeza
Fiz a seguinte pergunta:
Porque ser livre?
Algumas pessoas responderam:
“Huummm… Acho que eu queria ser livre para não ter que dar satisfações para ninguém, ou explicar o que eu estou fazendo.
É bastante interessante querer e realmente poder.”
“…eu quero me libetar das coisas ruins que acontece no mundo dizendo simplismente, eu quero e fugir para ser livre!”
“Quero ser livre para poder sorrir qnd eu quiser, para poder chorar qnd eu quiser, sem ter alguém do meu lado que insista para fingir meu sentimentos para que a outra pessoa não se sinta magoada.”
“…para fazer tudo q tiver ao mau alcance sem restrições, e muito menos culpa”.
“Eu queria ser livre da MATEMATICA não é justo eu ser dependente dela se eu tento entende-la ela me menospreza se eu a ignoro ela me derrota, ISSO NÃO Vale!!!!!!!!!!”
Poxa, com estas respostas chego a uma conclusão:
Não nos sentimos livres porque queremos uma liberdade baseada em pessoas, situações e fatos. Mas a liberdade está na Pessoa.
Na Pessoa de Jesus, que diz: “ Conhecereis a verdade e ela vos libertará.
Tenho que me conhecer… quem sou eu… Assim me torno livre.
A maior prisão é a cela interior que me prende a mim mesmo. Medo de errar já é erro em si pois não nos resumimos a um saco de moléculas que funciona direitinho.
Longe de casa… mas dentro de si mesmo! Livre em si e bem perto de Deus!
A liberdade que Deus nos dá em Cristo é que nos capacita a identificarmos nossas falhas – e ultrapassá-las com a ajuda Daquele que nos criou para muito mais além do que pensamos!
“A liberdade não tem qualquer valor se não inclui a liberdade de errar.”

sexta-feira, 14 de setembro de 2012


“O sal no cocho”


Um criador de gado ou um tirador de leite faz tudo para que seu gado esteja sempre bem tratado e nutrido. Ele sabe que além de um bom pasto, o gado precisa de sal mineral. O sal é colocado no cocho, num lugar estratégico do pasto. Normalmente tem uma cobertura para evitar que o sal se derreta com a chuva.
Quando o retireiro coloca o sal no cocho, ele  não precisa tocar as criações para lá. O gado, com seu faro, sente a presença do sal e caminha para o cocho. É a atração do sal. As criações não o comem de bocada. Elas o lambem devagar. Depois de saborear o sal ficam em Volta do cocho por uns instantes…  vão em direção DA água. Depois deitam e ruminam.
Os componentes nutritivos do sal fazem o gado ficar mais sadio, mais resistente, seu pêlo se assenta e não se arrepia. O sal mineral dá resistência contra OS parasitas. Com o seu uso, o gado FICA menos arisco, mais agrupado. O sal mineral não pode faltar no cocho. Sem ele, o gado perde  resistência,  perde peso, e se torna mais agressivo. E ainda, não se pode substituir o sal mineral pelo sal de cozinha. Deve-se colocar o sal apropriado.
A Vida Religiosa tem como base a vida comunitária, por isso, ela tem  muito a ver com o sal mineral no cocho. O cocho reúne o gado, a vida comunitária reúne OS irmãos. Assim, não basta apenas ter o “cocho” DA vida comunitária de forma institucional, canônica. Tudo isto é uma necessidade que deve estar a serviço DA vida . Só as normas não preenchem o sentido de uma vida em grupo. Quando isto acontece o “cocho” DA vida comunitária pode ficar vazio. Deixa de exercer sua atração. Os membros de uma comunidade religiosa, quando se reúnem no  “cocho” DA vida comunitária apenas pela força de um regulamento, não se sentem bem em Volta dele. A vida comunitária torna-se um peso difícil de suportar.
A ESPIRITUALIDADE  é o “sal mineral” que dá sentido ao “cocho” DA vida  comunitária. O seguimento de Jesus Cristo, explicitado na vivência do carisma DA Congregação, faz com que OS membros DA comunidade religiosa sejam tocados por Deus. Passam a agir por uma forte mística pela qual, as normas e regulamentos são vistos como mediações para nos conduzir ao Absoluto de Deus.
No “cocho” DA vida comunitária, não pode faltar a espiritualidade. Ela é que, de fato, congrega, atrai e alimenta OS membros para um mesmo ideal. Ela desperta encantamento e fascinação. Os  melindres, preconceitos e desconfianças (= arrepios), vão desaparecendo e a fraternidade encontra seu espaço. A vida comunitária deixa de ser um peso, vira alegria. Aí, pode-se cantar como o salmista: “Vejam como é bom, como é agradável OS irmãos viverem unidos.” (Sl 133,1). O sal DA espiritualidade faz também crescer, cada vez mais, a nossa sede de Deus (Cf. Sl 42,3).
Este “cocho” DA vida comunitária, animado pelo sal DA espiritualidade, deve ter a cobertura contra as “chuvas” do ativismo, do barulho, do consumismo e outros “ismos” que podem ir derretendo este sal DA espiritualidade. Sem o sal verdadeiro de uma profunda espiritualidade, a vida comunitária perde o sentido e a credibilidade. Deixa de ser sinal e testemunho do Reino de Deus.
A  Espiritualidade não pode ser reduzida a momentos de oração. Ela deve ser cultivada nestes momentos comunitários fortes. Mas vai muito além deles. Trata-se de um mergulho no mistério de Deus através do silêncio contemplativo. Quando este “cocho” DA vida comunitária FICA vazio, a vida religiosa também FICA vazia, perde o sentido, perde sua força de atração, e o que é pior, seus membros começam a se estranhar. Os “bernes” começam a latejar, e vai-se perdendo a sede de Deus. E pode-se passar a ter sede de outras coisas.
A intimidade com a Palavra de Deus nos coloca na convivência com a caminhada mística de diversos personagens bíblicos. O primeiro deles é Abraão, símbolo vivo de nossa caminhada rumo a Deus. Ele  faz a sua experiência de Deus, levando consigo seus problemas e esperanças, sua coragem e indecisões, sua sabedoria de vida e sua forte disponibilidade. A experiência de Deus feita por Abraão tem componentes básicos que não podem faltar no sal DA nossa espiritualidade: Saída = risco (cf. Gn 12,1-9). Promessa = bênção (cf. Gn 13,14-18). Terra = residir nela como estrangeiro; culto na tenda = Hospitalidade (cf. Gn17, 3-8). A presença de Deus é descoberta no convívio de uma refeição debaixo do carvalho (cf. Gn 18, 1-10). Perder o sentido do acolhimento é perder o sentido do outro e de Deus. Fogueira = entrega  total (cf. Gn 22,1-19).
O sal DA espiritualidade em nosso “cocho” DA vida comunitária tem os ingredientes da espiritualidade de Abraão?  Que “Deus possa nos ocultar na sua cabana e esconder-nos no segredo de sua tenda” (Sl 27,5), para que possamos revigorar o sal da espiritualidade dos “cochos” de nossas vidas comunitárias.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012


Razões para ser padre


 Na sociedade atual, hedonista e secularizada, a figura do Padre é objeto de muita discussão, inclusive através da mídia. Freqüentemente, pessoas que pouco entendem do assunto, se permitem a audácia, talvez até com boa intenção, de dar sugestões sobre como deveria ser o sacerdócio católico. O Presbítero, habitualmente chamado pelo povo de Padre, possui o segundo grau do Sacramento da Ordem. Portanto, é Sacerdote, assim como o Bispo, que tem a plenitude deste Sacramento. Nesta reflexão, vamos considerar algumas razões para ser Padre, isto é, participante do Sacerdócio de Jesus Cristo, hoje e sempre. Primeiramente, é preciso compreender que o Padre foi chamado por Deus. Não é uma vocação que alguém escolhe, porque se julga apto para tal, ou porque acha interessante. A escolha é de Deus, e o seu chamado não se discute. Por isso, o sacerdócio é um privilégio, imerecido. Quando da eleição dos Apóstolos, e também dos discípulos, Jesus passou a noite em oração. Pela manhã, Ele escolheu os que queria para o seu grupo, com os quais fundou a sua Igreja, que subsistirá até o fim dos tempos – a Igreja Católica Apostólica Romana. O Padre é homem de Deus. Esta é sua característica fundamental. Tudo que se queira acrescentar à sua figura, são detalhes acidentais. Jesus, aos 12 anos, afirmou: “Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (Lc 2,49). Tal é a realidade mais profunda do Padre – as coisas do Pai. Isto não impede que seja uma pessoa politizada e comprometida com a realidade que o cerca. Não se trata de fazer política partidária, que não compete ao ministro ordenado, mas da orientação ao seu rebanho para a prática da cidadania e um posicionamento segundo a moral cristã, sempre tendo em vista o bem comum. Apesar do secularismo, a que já aludimos, o homem hodierno busca, sequiosamente, o rosto de Cristo. Por isso, o Padre é chamado a ser re+presentante do próprio Senhor: ele O torna novamente presente. E quanto mais transparente e mais perfeita for essa presença, melhor responderá às indagações dos que a procuram. Nosso pranteado Papa João Paulo II nos exortava a contemplar o rosto de Cristo, para revelá-lo aos outros. Chegou a dizer que os Padres são o “Coração de Jesus” – expressão forte, que significa o amor de Jesus, divino e humano, que o Padre deve transparecer, através da missão que exerce. O povo quer ver, tocar, perceber, ouvir o Cristo na pessoa do Padre. Por isso, a palavra do Padre não é dele mesmo, mas é a Palavra de Deus. O toque sacramental do Padre não é um toque meramente humano, mas ultrapassa esta dimensão e penetra no divino, do qual o sacerdócio é, de fato, mediação. Esta configuração ao Cristo tem profundas raízes teológicas, que atestam a exclusividade do sacerdócio para os varões, como participação no único e eterno sacerdócio do próprio Cristo. Jesus não escolheu nem sua própria Mãe Santíssima, para compor o grupo daqueles que seriam a base apostólica da sua Igreja. Mas não é nosso propósito discutir este assunto, no presente texto. Apenas confirmamos a posição da Igreja, em nome de quem o Papa João Paulo II falou, quando expôs, claramente, seu ensinamento a este respeito. Ainda segundo o saudoso Papa, na sua Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis – “Dar-vos-ei Pastores segundo o meu Coração” (Jr 3,15), de 25 de março de 1992, o Padre tem que possuir 5 qualidades essenciais: 1° Ser homem, física e psicologicamente, sadio. 2° Ser pessoa de oração, portanto piedoso. Pietas, em latim, significa um devotamento filial aos pais. O Padre deve ter um afeto filial, carinhoso para com Deus, nosso Pai, e é a partir desse modelo, que ele vai buscar a delicadeza paterna, e materna, que demonstrará na sua experiência humana de diálogo com o mundo de hoje, homens e mulheres do nosso tempo. 3° Ser uma pessoa culta. A formação intelectual de um Padre exige um mínimo de 7 anos de estudos universitários, incluindo as Faculdades de Filosofia e de Teologia, além da comprovada competência pastoral. 4° Ser um verdadeiro pastor. Deve conhecer os problemas que se abatem sobre a humanidade, para dar a resposta pastoral necessária, dentro de uma visão eclesial coerente. 5° Ser um elemento de equipe, que saiba viver em comunidade e para a comunidade. Que nunca trabalhe só, a não ser nas coisas do trato direto com Deus. Tudo o mais seja feito em conjunto com a comunidade a que ele serve. Isto exige afabilidade, equilíbrio e capacidade de diálogo. Como seguidores de Cristo, os Apóstolos tiveram que deixar tudo: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim” (Mt 10,37). Trata-se da doação integral da pessoa e da sua capacidade de amar, para que Cristo dela disponha em favor dos mais necessitados: os pobres, os pecadores, os que sofrem de múltiplas carências, os que nos procuram para aconselhamento. Para estar disponível a tudo isto, permanentemente, é preciso ter um amor exclusivo. São Paulo diz, claramente: “O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa” (1Cor 7,32-33). Portanto, tem um coração dividido. O Padre não pode viver assim. O seu amor, as suas energias, a sua competência, tudo deve estar a serviço das ovelhas do seu rebanho. Por isso, a Igreja, desde os primórdios, introduziu o celibato, seguindo a exigência que Jesus fez aos Apóstolos sobre deixar tudo. Apesar do que afirmam as críticas apressadas a esta norma antiqüíssima, o celibato sacerdotal não é a causa de eventuais problemas afetivos. O Pontifício Conselho para a Família tem afirmado, muitas vezes, que se encontram na família os maiores problemas da atualidade, sob qualquer ponto de vista: pastoral, social, cultural. Não adianta querer resolver uma suposta carência afetiva na vida do Padre, apelando para o Matrimônio, como se fosse a solução mágica. Na vida a dois também há solidões. E muitas. Talvez, até, mais dolorosas do que no celibato. Os psicólogos estão aí para comprová-lo. A doação integral do amor faz parte da condição existencial do Padre. Sendo uma vocação, é a única capaz de realizá-lo como pessoa. Quem não for capaz disto, por um compromisso total, irrestrito e perpétuo, não é chamado para o sacerdócio, segundo a vivência da Igreja Latina, Ocidental. Rezemos para que Deus nos dê sempre bons e santos Padres, segundo o seu Coração: “A promessa do Senhor suscita no coração da Igreja a oração, a súplica ardente e confiante no amor do Pai de que, tal como mandou Jesus o Bom Pastor, os Apóstolos, os seus sucessores, e uma multidão inumerável de presbíteros, assim continue a manifestar aos homens de hoje a sua fidelidade e a sua bondade” (Pastores Dabo Vobis, n°82).

quarta-feira, 12 de setembro de 2012


O mundo contemporâneo precisa de consagrados e consagradas que sejam…

O mundo contemporâneo precisa de consagrados e consagradas que sejam…
 
Em tempos de grandes transformações, o mundo contemporâneo precisa de consagrados e consagradas que sejam: 
Homens e Mulheres do seu tempo, plenamente humanos/as, que se sentem filhos e filhas amados/as por Deus, chamados/as, enviados/as a serem expressão do Amor de Deus na humanidade.
Homens e Mulheres apaixonados/as por Jesus Cristo e pela humanidade, capazes de entregar suas vidas, de forma generosa e gratuita, em prol da concretização do Reino.
Homens e Mulheres que testemunham, pela sua própria vida, que é possível amar plenamente as pessoas e viver de forma livre, frente aos bens e à própria Vida.
Homens e Mulheres que buscam, acima de tudo, viver uma espiritualidade encarnada e itinerante, que os tornam sensíveis diante dos apelos de Deus, que se revelam nos sinais dos tempos e no cotidiano da vida.
Homens e Mulheres criativos/as, corajosos/as, capazes de ultrapassar fronteiras culturais, étnicas e geográficas, para anunciar o Evangelho da Vida e da Esperança.
Homens e Mulheres do povo, capazes de em tudo amar e servir. Comprometidos/as com a construção de uma sociedade fundada em novas relações políticas, econômicas e sociais.
Homens e Mulheres que marcam presença profético-solidária, num mundo em constante transformação sócio-cultural. Homens e mulheres que revelam o rosto de um Deus que continua vendo e ouvindo os gritos dos empobrecidos e excluídos do nosso tempo. De um Deus que continua descendo para libertar, resgatar e promover a vida de seu povo, através da missão de cada consagrado e consagrada.
Homens e Mulheres que ao encontrar-se com Ressuscitado nos “Caminhos de Emaus” deixam-se abrasar pelo seu amor e ousam voltar para as tantas “Jerusalém” dos nossos dias e, ali anunciam que vale a pena viver segundo o Projeto de Jesus.
Homens e Mulheres capazes de romper com as seguranças e as estruturas que limitam a fidelidade criativa do Carisma e a vivência de uma VRC refundada, criativa, solidária, profética e sinal da presença do Reino de Deus, no atual momento da história.
Homens e Mulheres capazes de alargar o espaço da “tenda” da VRC, para acolher a diversidade de cores, culturas, gerações e carismas e unir forças diante dos novos apelos e desafios da missão.
Homens e Mulheres capazes de adentrar corajosamente nos espaços em transformação, sendo presença de uma Vida Religiosa humanizadora, dedicada ao cuidado da vida humana e do cosmo.

PARABÉNS pela coragem e ousadia de sonhar e buscar viver com autenticidade essa proposta de Vida Consagrada.
PARABÉNS por ser LUZ e presença amorosa, terna e misericordiosa do Deus da Vida, no meio do Povo.