sexta-feira, 14 de setembro de 2012


“O sal no cocho”


Um criador de gado ou um tirador de leite faz tudo para que seu gado esteja sempre bem tratado e nutrido. Ele sabe que além de um bom pasto, o gado precisa de sal mineral. O sal é colocado no cocho, num lugar estratégico do pasto. Normalmente tem uma cobertura para evitar que o sal se derreta com a chuva.
Quando o retireiro coloca o sal no cocho, ele  não precisa tocar as criações para lá. O gado, com seu faro, sente a presença do sal e caminha para o cocho. É a atração do sal. As criações não o comem de bocada. Elas o lambem devagar. Depois de saborear o sal ficam em Volta do cocho por uns instantes…  vão em direção DA água. Depois deitam e ruminam.
Os componentes nutritivos do sal fazem o gado ficar mais sadio, mais resistente, seu pêlo se assenta e não se arrepia. O sal mineral dá resistência contra OS parasitas. Com o seu uso, o gado FICA menos arisco, mais agrupado. O sal mineral não pode faltar no cocho. Sem ele, o gado perde  resistência,  perde peso, e se torna mais agressivo. E ainda, não se pode substituir o sal mineral pelo sal de cozinha. Deve-se colocar o sal apropriado.
A Vida Religiosa tem como base a vida comunitária, por isso, ela tem  muito a ver com o sal mineral no cocho. O cocho reúne o gado, a vida comunitária reúne OS irmãos. Assim, não basta apenas ter o “cocho” DA vida comunitária de forma institucional, canônica. Tudo isto é uma necessidade que deve estar a serviço DA vida . Só as normas não preenchem o sentido de uma vida em grupo. Quando isto acontece o “cocho” DA vida comunitária pode ficar vazio. Deixa de exercer sua atração. Os membros de uma comunidade religiosa, quando se reúnem no  “cocho” DA vida comunitária apenas pela força de um regulamento, não se sentem bem em Volta dele. A vida comunitária torna-se um peso difícil de suportar.
A ESPIRITUALIDADE  é o “sal mineral” que dá sentido ao “cocho” DA vida  comunitária. O seguimento de Jesus Cristo, explicitado na vivência do carisma DA Congregação, faz com que OS membros DA comunidade religiosa sejam tocados por Deus. Passam a agir por uma forte mística pela qual, as normas e regulamentos são vistos como mediações para nos conduzir ao Absoluto de Deus.
No “cocho” DA vida comunitária, não pode faltar a espiritualidade. Ela é que, de fato, congrega, atrai e alimenta OS membros para um mesmo ideal. Ela desperta encantamento e fascinação. Os  melindres, preconceitos e desconfianças (= arrepios), vão desaparecendo e a fraternidade encontra seu espaço. A vida comunitária deixa de ser um peso, vira alegria. Aí, pode-se cantar como o salmista: “Vejam como é bom, como é agradável OS irmãos viverem unidos.” (Sl 133,1). O sal DA espiritualidade faz também crescer, cada vez mais, a nossa sede de Deus (Cf. Sl 42,3).
Este “cocho” DA vida comunitária, animado pelo sal DA espiritualidade, deve ter a cobertura contra as “chuvas” do ativismo, do barulho, do consumismo e outros “ismos” que podem ir derretendo este sal DA espiritualidade. Sem o sal verdadeiro de uma profunda espiritualidade, a vida comunitária perde o sentido e a credibilidade. Deixa de ser sinal e testemunho do Reino de Deus.
A  Espiritualidade não pode ser reduzida a momentos de oração. Ela deve ser cultivada nestes momentos comunitários fortes. Mas vai muito além deles. Trata-se de um mergulho no mistério de Deus através do silêncio contemplativo. Quando este “cocho” DA vida comunitária FICA vazio, a vida religiosa também FICA vazia, perde o sentido, perde sua força de atração, e o que é pior, seus membros começam a se estranhar. Os “bernes” começam a latejar, e vai-se perdendo a sede de Deus. E pode-se passar a ter sede de outras coisas.
A intimidade com a Palavra de Deus nos coloca na convivência com a caminhada mística de diversos personagens bíblicos. O primeiro deles é Abraão, símbolo vivo de nossa caminhada rumo a Deus. Ele  faz a sua experiência de Deus, levando consigo seus problemas e esperanças, sua coragem e indecisões, sua sabedoria de vida e sua forte disponibilidade. A experiência de Deus feita por Abraão tem componentes básicos que não podem faltar no sal DA nossa espiritualidade: Saída = risco (cf. Gn 12,1-9). Promessa = bênção (cf. Gn 13,14-18). Terra = residir nela como estrangeiro; culto na tenda = Hospitalidade (cf. Gn17, 3-8). A presença de Deus é descoberta no convívio de uma refeição debaixo do carvalho (cf. Gn 18, 1-10). Perder o sentido do acolhimento é perder o sentido do outro e de Deus. Fogueira = entrega  total (cf. Gn 22,1-19).
O sal DA espiritualidade em nosso “cocho” DA vida comunitária tem os ingredientes da espiritualidade de Abraão?  Que “Deus possa nos ocultar na sua cabana e esconder-nos no segredo de sua tenda” (Sl 27,5), para que possamos revigorar o sal da espiritualidade dos “cochos” de nossas vidas comunitárias.

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