domingo, 16 de setembro de 2012


Brasa enxuta

fogo
Em nossas liturgias solenes fazemos uso do incenso. É a expressão de nossa adoração, de nossas preces subindo até Deus. Para incensar colocamos no turíbulo brasas acesas sobre as quais depositamos o incenso. Neste instante sai do turíbulo uma fumaça perfumada. O sucesso da incensação depende da qualidade das brasas. Se as brasas não tiverem nenhuma umidade, se forem brasas enxutas, a fumaça provocada pelo incenso é mais abundante, mais forte, mais duradoura e ultrapassa o seu próprio ambiente. Caso contrário, se houver nas brasas alguma umidade, a fumaça é mais fraca, não se espalha muito e fica restrita ao seu ambiente. Nossa vida de comunidade pode ser comparada a um turíbulo com brasas acesas. Essas brasas são a nossa vida comum, a fraternidade, a partilha, a misericórdia, o perdão e a hospitalidade nas diferenças. Para manter estas brasas acesas e sem umidade devemos abanar constantemente o turíbulo de nossa vida comunitária na direção do Absoluto, do seguimento discipular de Jesus. E Ele, ao mesmo tempo, nos envia para perceber os sinais dos tempos e as potencilialidades de nossos irmãos. É a espiritualidade envolvendo toda a nossa vida sempre assoprada e abanada pelo Espírito de Deus. Não basta que o turíbulo de nossa vida comunitária tenha as brasas dos exercícios comunitários: orações, celebrações, retiros, etc. É necessário que a brasa não tenha a umidade da rotina, do peso das coisas marcadas, do fazer para ficar livre. Quando isto acontece, o turíbulo de nossa vida comunitária não reage bem ao receber o incenso das nossas orações comunitárias, da celebração eucarística, do retiro mensal, etc. A fumaça, quer dizer o resultado destes momentos. Fica restrito à presença física, que nem sempre expressa a motivação, o encantamento e a paixão pelo seguimento missionário de Jesus. São Paulo na sua 1ª Carta aos Coríntios lembra àquela comunidade a existência de algumas umidades que estavam diminuindo a força das brasas dos dons, da vida familiar e da Ceia do Senhor. O apóstolo se refere às umidades da competição, da desigualdade, da exclusão e de costumes pagãos. Paulo nos diz que quando a Ceia do Senhor é celebrada sobre a umidade da competição, da exclusão, da frieza no relacionamento, da falta de ternura e de perdão e sobre a incapacidade de hospedar as diferenças dentro de nós, ela deixa de ser a mesa da partilha, deixa de ser fonte de crescimento comunitário. Deixa de ser ceia do Senhor (cf. 1Cor 11,20). Não faz mais a diferença da situação dominante. Esta celebração fica restrita ao local onde ela aconteceu. Não tem influência fora. Perde o seu sentido. Paulo diz que a Ceia do Senhor, como também todas as atividades comunitárias, não podem ser coniventes com estas umidades (cf. 1Cor 11,21-22). Diante de tudo isto fica para nós algumas perguntas: – Como estão as brasas de nossa vida comunitária? – Qual a reação dela diante do incenso das orações comunitárias, da celebração da eucaristia, dos retiros e reuniões? – É uma reação que vai além do momento celebrativo? – É uma reação de gente apaixonada pelo que faz? – Nossas atividades comunitárias são brasas enxutas dentro do turíbulo da vida comunitária? – Como estão as abanadas de nosso turíbulo da vida comunitária?

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