quinta-feira, 23 de agosto de 2012

VOCAÇÃO RELIGIOSA


Partindo de uma realidade vocacional, há várias vocações específicas em meio a Igreja, povo de Deus.  Perante essa crescente vocação, a  Constituiçã0 Dogmática Lumem Gentium reserva o seu capítulo sexto para tratar diretamente dos religiosos.
A vida religiosa tem origem no primeiro milênio da Igreja e sua colaboração para vida da mesma é inquestionável. Com isso, procuraremos encontrar o seu lugar na Igreja e a sua colaboração para a santificação do povo de Deus. No primeiro momento tentaremos definir a vida religiosa, passando pela profissão dos conselhos evangélicos e tendo como modelo Cristo. E, por fim, abordaremos a contribuição destes para a Igreja e para o mundo.
O Direito Canônico assim define a vida religiosa: “A vida consagrada pela profissão dos conselhos evangélicos é uma forma estável, pela qual os fiéis, seguindo mais de perto a Cristo sob a ação do Espírito Santo, consagram-se totalmente a Deus sumamente amado, para assim, dedicados por título novo e especial à sua honra, à construção da Igreja e à salvação do mundo, alcançarem a perfeição da castidade no serviço do Reino de Deus e, transformados em sinal preclaro na Igreja, preanunciarem a glória celeste. Assumem livremente essa forma de vida nos Institutos de vida consagrada, canonicamente erigidos pela competente autoridade da Igreja, os fiéis que, por meio dos votos ou de outros vínculos sagrados, conforme as leis próprias dos institutos, professam os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência e, pela caridade à qual esses conduzem, unem-se de modo especial à Igreja e a seu mistério.” (Cân. 573).
Com a definição da vida religiosa devemos compreender qual a origem deste estilo de vida. Se observarmos um luz que perpassa um prisma veremos que ela refrange as cores do arco-íris. Analogamente, a luz do batismo nos impulsiona a viver as várias faces da vida de Cristo. A vida de filhos conferida no batismo nos obriga a corresponder a essa nova vida. Todavia, alguns são chamados a viver de forma radical as virtudes de Cristo, de maneira peculiar os conselhos evangélicos.
A vida terrena de Cristo – nos seus gestos e palavras – ilumina a vocação religiosa. A oferta de um amor virginal ao Pai manifesta a totalidade da sua entrega (cf. Jo 10,30). Este amor gratuito do Filho considera que tudo recebeu do Pai e para Ele tudo entrega (cf. Jo 17,7). Ele confia nas palavras do Pai, e por isso, procura correspondê-Lo em tudo se realiza na concretização da sua vontade (cf. Jo 4,34). Assim, o modelo de Cristo no celibato, na pobreza e na obediência se torna o caminho para aqueles que desejam se consagrar totalmente a Deus.
O Espírito Santo não cessa de suscitar nos fieis o desejo de reproduzir em si a vida de Jesus assumindo esse estilo de vida. Através da profissão religiosa, i. é, por meio dos votos ou outros vínculos sagrados o fiel se compromete publicamente de viver de forma estável os três conselhos evangélicos. Na caridade o consagrado se entrega a Deus com o coração indiviso, adotando a continência perfeita do celibato. Pelo voto da pobreza, fruto da liberdade interior, o religioso longe de qualquer apego se lança no amor a Deus e aos irmãos. Esta liberdade impulsiona o consagrado na obediência, onde deseja somente fazer a vontade do Pai, expressa pela Igreja e pelo superior do seu Instituto.
Por estado religioso entende-se os Monges e Monjas, os Religiosos e Religiosas, das Ordens, Congregações e Institutos Religiosos. O estado religioso, como afirma a Constituição, não faz parte da hierarquia e nem é considerado como estado intermediário. Todavia, é um dom especial onde quanto os clérigos e quanto os leigos podem usufruir em vista da santificação do seu estado.
A vida do religioso está relacionado com um carisma, i. é,  é um dom de Deus para o benefício da Igreja e da humanidade. Para tal, a Igreja, salvaguardando a integridade da fé e dos costumes, reconhece a autenticidade de um carisma e o reconhece como meio de santificação para o povo de Deus. O fundador de uma Ordem ou Instituto Religioso possui um carisma próprio onde manifesta o fruto da sua experiência no Espírito, conclui o documento Mutuae Relationes. A Igreja regula a prática dos conselhos evangélicos, a fim, de proteger e promover o Instituto segundo o espírito do fundador.
O Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Vita Consecrata, enfatiza que a opção pela vida religiosa é fruto do contato com as maravilhas de Deus. Assim, a experiência de uma vida transfigurada suscita admiração do mundo. A vida consagrada faz perceber a marca da vida trinitária na história, acentua o Papa.
Os religiosos devem, portanto, serem sinais da vida divina para os fieis e infiéis. Os conselhos vividos são sinais de contradição do mundo e ao mesmo tempo um convite a examinarmos. A perfeição da caridade, animada pela pobreza, castidade e obediência, é um aceno da vida futura vivida já aqui.
O religioso deve penetrar na sociedade com o seu testemunho evangélico. Cabe a eles o esforço para viver segundo seu estado e ao mesmo tempo aperfeiçoa-lo. Toda atividade do consagrado, por mais que não esteja diretamente em contato com a sociedade, edifica a cidade terrena, pois o testemunho suscita uma vida em Cristo. De tal modo, não podemos ignorar a contribuição dos religiosos para a formação do mundo ocidental. As grandes descobertas na área da medicina, agricultura, astronomia, direito, e os grandes feitos caritativos provém desta vida dedicada a Deus e ao próximo.
Apesar de toda realidade apresentada por este capítulo sexto vemos que a estrutura da Igreja é essencialmente hierárquica. O único legado de Cristo presente nos Evangelhos é a dos Apóstolos e dos discípulos. Como podemos entender a presença de religiosos na Igreja, visto que não é um desejo explicito do fundador da Igreja? Sendo que a Igreja vive dos sacramentos, qual a razão para haver religiosos leigos? Se o carisma é dado pelo Espírito num tempo determinado haverá necessidade de religiosos hoje?
Antes de responder aos questionamentos a cima devemos assumir como premissa a seguinte afirmação: todos os fieis, por razão do batismo, são chamados a santidade. Corresponder a graça filial é o maior empenho de todo cristão. Dessa forma, a sua dignidade consiste em ser chamado filho. Dentro do grupo de fieis podemos encontrar vários estados de vidas que possuem uma diferença funcional. Uma não deve contrapor a outra, mas colaborar na difusão e vivência da fé. A vida radical do Evangelho será sempre uma urgência, pois a fé não nos deixa numa passividade, mas num empenho de antecipar as realidades futuras. Deste modo, um grupo de fieis se unem ao redor de um carisma, através dos votos, para viver e servir o Evangelho de forma mais intensa.
Por fim, entende-se que a vida religiosa é uma busca por um seguimento mais radical de Cristo e tem como raiz a caridade que é o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como o próprio Cristo viveu. O religioso, dessa maneira, se distingue na Igreja pela sua radicalidade evangélica e pela profissão.

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